Num dia comum, em um lugar qualquer, eu a avistei. Despretensiosamente ela estava ali. Pequena, fria e perfeitamente perigosa.
Várias pessoas devem ter passado sem a ela notar, mas a mim foi instantâneo. Sua presença me fez parar, esquecer de tudo que tinha em volta por alguns instantes. Ainda paralisada me vinham várias memórias, lembranças. E eu poderia permanecer inerte em meus pensamentos, porém algo me fez voltar ao real.
- A senhora deseja mais alguma coisa? - Ouvi numa voz de fundo, quase que inaudível.
- Quanto custa? - Perguntei de forma rápida. Não queria saber quanto custava. Aquela mulher jamais saberia calcular o valor que aquilo tinha para mim.
Então, ainda submersa, eu via um trailer de cenas rápidas de como aquela coisinha agia em minha vida. Tirava-me da agonia e me levava para a satisfação de forma inacreditável. Mas também me tirava à atenção, a paz. Fazia-me sentir uma mera súdita diante dos poderes que tinha sobre mim, fazia-me menor que ela mesma. Trouxe problemas, dores, medos. Danos quase que irrecuperáveis.
Com o receio que se tem ao tocar em algo desconhecido e aparentemente duvidoso, eu a toquei. Mas como se queimasse, tirei a minha mão rapidamente.
Eu não a queria. Não precisava mais, tinha certeza. Não iria mais cair em seus golpes. Difícil demais foi para me reerguer e não deixaria mais que ela me derrubasse.
- A senhora vai levar? - Perguntou impacientemente a moça do caixa, fazendo-me voltar.
- Não. Eu não preciso disso. - Respondi com vigor.
E ao sair da loja, falei mentalmente para aquela que ficou para trás: Eu venci você.
Texto aberto para as mais diversas interpretações.